Evolução de Blindados
A guerra sempre foi um fenômeno da história da humanidade, em que uma nação ou grupo de nações, por meio da violência, procurou impor sua vontade sobre a outra.
Vários processos e instrumentos de combate foram surgindo com o decorrer da evolução das civilizações.
A natureza não legou ao ser humano condições favoráveis ao combate, porém legou-lhe a inteligência, que o fez dominar a própria natureza, as demais espécies do planeta e civilizações menos evoluídas.
Desde a pré-história, uma série de engenhos foram inventados com objetivos bélicos, até chegarmos aos atuais carros de combate modernos.
A seguir, existe uma rápida retrospectiva da história, do que foi usado com o propósito de aumentar a mobilidade, a proteção e o poder de destruição dos combatentes, no mundo e no Brasil.
II. DESENVOLVIMENTO
Até o início deste século, a evolução da arma blindada, tanto no que se refere aos seus engenhos quanto à parte tática, processou-se muito lentamente.
Foi durante a 1ª Guerra Mundial - caracterizada pela “guerra de posição” (surgida graças à efetividade alcançada pelo fuzil de repetição, pela metralhadora e pela artilharia, aliados à combinação dos obstáculos nas posições fortificadas) - que praticamente nasceu a necessidade de estabelecer a mobilidade no campo de batalha.
Porém, essa mobilidade só seria alcançada se fosse vencida a defesa inimiga em seu conjunto (fuzileiro, projétil, obstáculos e terreno). Era necessário,, então, dispor-se de um meio de combate blindado à prova de projetis, com capacidade de se deslocar fora dos “caminhos” e sobre o campo de batalha,, dispondo ainda de um adequado poder de fogo.
Em conseqüência, cada país participante concentrou seus esforços na pesquisa e desenvolvimento de tal engenho. O resultado foi o primeiro “carro de combate”, empregado pela primeira vez em 15 de setembro de 1916, na batalha de SOMME, pelos ingleses, com a denominação de “tank”, que persiste até hoje.
Na 1ª Guerra Mundial os carros, apesar de ainda em fase embrionária, foram largamente empregados em batalhas (CAMBRAI, em novembro de 1917 e AMIENS, em agosto de 1918) nas quais participaram cerca de 400 a 600 carros de combate, com resultados altamente satisfatórios.
Ao término do conflito chegava-se a várias conclusões sobre os carros de combate, tais como:
1) Sua eficiência tática era resultado da reunião, num só equipamento, de 03 (três) características :
-Mobilidade;
-potência de fogo e
-proteção blindada.
2) Sua forma proeminente e sua lentidão, o tornava alvo vulnerável e de difícil ocultação.
3) Embora capaz de penetrar nas bem organizadas posições defensivas inimigas (trincheiras e espessos rolos de arame farpado), seu ataque tinha pouca profundidade, devido ao seu pequeno raio de ação (autonomia).
A partir daí, alguns países envolvidos em guerras dedicaram-se a uma verdadeira corrida tecnológica, a fim de fabricar e aperfeiçoar seus carros de combate e superarem seus opositores, o que proporcionou um considerável desenvolvimento no setor.
b. O 1º Carro de Combate do Brasil
Pioneiro na América do Sul na aquisição de blindados, o Brasil assistiu à chegada, em 1921, dos carros de assalto RENAULT FT-17 (FT – carro leve), de origem francesa e à criação da Companhia de Carros de Assalto, na Vila Militar, na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal.
O Brasil adquiriu 12 exemplares do RENAULT FT-17, pesando 6,5 toneladas, que atingiam a velocidade de 7,7 Km/h, equipados com um canhão de 37 mm e com uma metralhadora de 8 mm e tripulação de 2 homens.
A primeira aparição pública dos RENAULT FT-17 foi feita em desfile militar, onde o Exército homenageava o Rei Alberto da Bélgica, em visita ao Brasil no ano de 1921.
Estava lançada a semente da nova e importante arma no Brasil.
c. A evolução dos Carros de Combate no Brasil
Durante a Revolução de 1930, o Rio Grande do Sul idealizou construir três blindados sobre lagartas, os quais foram batizados com os nomes de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. Porém, não se tem notícias da utilização dos mesmos em combate. Ainda, em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, os paulistas construíram o famoso “trem blindado” e as “bombardas”, caminhões cobertos por chapas de aço.
Em 1938, regressava ao Brasil, depois de ter observado o desenvolvimento das operações de guerra na Abissínia, então ocupada pelas tropas italianas, o General Waldomiro Castilho de Lima. A conselho deste chefe, o governo brasileiro decide substituir os velhos RENAULT FT-17, já obsoletos, por carros de combate FIAT-ANSALDO CV 3/35 – de origem italiana – que operaram, com relativo sucesso, no terreno montanhoso em que se desenvolveu a Guerra Civil Espanhola e nas terras áridas da Etiópia
Este carro de 3,85 toneladas, motor de 4 cilindros e 40 HP, capaz de atingir uma velocidade de 40 Km/h, equipado com duas metralhadoras Breda de 13 mm, foi oficialmente apresentado às autoridades brasileiras na parada de 7 de setembro de 1938, formando assim a 1ª Unidade mecanizada de Cavalaria brasileira: o Esquadrão de Auto-Metralhadoras – sob o comando do Cap Paiva Chaves. Mais tarde, viria a se constituir no Centro de Instrução de Motomecanização, embrião da nossa atual EsMB.
Durante a 2ª Guerra Mundial, começou a transferência de armamentos para o Brasil, com o recebimento, em 1943, dos primeiros carros médios americanos “GRANT”. Esses CC haviam sido também fornecidos aos ingleses e aos russos, que os utilizaram em diversas frentes contra os alemães e italianos. Eram armados com canhão de 75 mm e duas metralhadoras, tinham guarnição de 4 homens e alcançavam velocidades de até 40 Km/h.
Pouco depois, chegaram os SHERMAN M-4, dotados de maior potência e mobilidade, tendo sido o carro de combate padrão do Exército americano, com guarnição de 5 homens, canhão de 75 mm e alcançando velocidade de 50 Km/h.
Vieram ainda os carros de combate leves M-3 e M2A1 STUART, os quais passaram a integrar o Regimento de Reconhecimento Mecanizado, de Campinho, atual 15º R C Mec. Eram tripulados por 4 homens, possuíam motor continental de 250 HP, eram equipados com canhão de 37 mm e três metralhadoras, e desenvolviam velocidades de 56 Km/h.
Após a 2ª Guerra Mundial, o Brasil possuía blindados SHERMAN (num total de 80), diversos M-8 com motor diesel Mercedes Benz OM-32 de 6 cilindros, 250 (duzentos e cinqüenta) M-3 A1 STUART, além de aproximadamente 30 (trinta) carros GRANT. Esses carros passaram a equipar diversas Unidades, principalmente nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, operando na década de 50.
Com a assinatura, em outubro de 1959, do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, conhecido como acordo de Fernando de Noronha, decidiu o Estado Maior do Exército que as Unidades blindadas deveriam ter todo seu material motorizado, de comunicações e grande parte de seu armamento substituído por outros mais atualizados, oriundos dos Estados Unidos.
Menos de um ano depois, desembarcava no porto do Rio de Janeiro o mais moderno material blindado existente na América do Sul. Em 1960 chegavam os primeiros tanques M-41 WALKER-BULDOG, equipados com um motor continental de 500 HP (à gasolina) e com um canhão de 76 mm.
Após a revolução de 1964, chegaram ao Brasil mais 300 (trezentos) M-113, equipados com motor Crhysler à gasolina para transporte
Chegou também uma certa quantidade de veículos M-578, com um motor DETROIT 8V 71T de dois tempos à diesel, que lhe garantia uma autonomia de 724 Km . Esse carro possui ainda uma lança com capacidade de içar até 13 toneladas e um guincho com capacidade de tração até 32.461 Kg, ambos operados hidraulicamente. Pronto para o combate pesa cerca de 24.300 Kg e constitui-se em uma verdadeira oficina ambulante.
Com a chegada desses novos materiais, foi permitido ao Exército reequipar suas Unidades blindadas e mecanizadas, bem como reequilibrar a balança do poder terrestre na América do Sul, fortemente inclinada para Buenos Aires durante a década de 60. Foi durante esta década que a indústria nacional deu seus primeiros passos para absorver a moderna tecnologia de veículos de combate.
1) A Indústria nacional
O rompimento do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos em 1977, pelo governo Geisel e a criação em 1º de junho de 1977 da IMBEL – Indústria de Material Bélico do Brasil, que absorveu todas as Unidades fabris do Exército, com exceção dos Arsenais de Guerra do Rio, São Paulo e de General Câmara, os quais passaram a ficar subordinados à Diretoria de Recuperação, pertencente ao Departamento de Material Bélico, foram fatores que ajudaram no desenvolvimento de veículos blindados no Brasil.
A partir de 1980, os Arsenais utilizaram seus potenciais fabris e recursos para repotencialização, transformação e adaptação do material bélico brasileiro; nacionalização de componentes importados; fabricação de peças e de material bélico. Além disso, cooperaram com a indústria civil no estudo, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, inclusive na fabricação de protótipos. Porém, poucas indústrias brasileiras cresceram e conseguiram ganhar renome internacional
O grupo ENGESA – Engenheiros Especializados S/A – criado em 1963 na cidade paulista de Santo Amaro, começou suas atividades como uma simples oficina dedicada à adaptação de tração total a pequenas e médias viaturas de emprego civil. Era composto por 15 empresas, dentre as quais se destacava a ENGESA VIATURAS, localizada em São José dos Campos, SP. Produzia os blindados sobre rodas EE 9 CASCAVEL (que equipa os nossos Esquadrões de Cavalaria Mecanizados, estrategicamente distribuídos pelo Brasil) e o EE 11 URUTU (recentemente empregado para integrar a missão de Força de Paz da ONU no transporte das tropas Brasileiras).
O CASCAVEL pesa 13,4 toneladas. Possui motor diesel Mercedes Benz que lhe proporciona velocidade de até 100 Km/h em estradas e autonomia de 750 Km. Apresenta tração nas 6 rodas e pneus podendo ser montados com uma câmara alveolar que lhe permite realizar deslocamentos de até 50 Km com os pneus vazios, ou perfurados por projétil. É operado por uma tripulação de 4 homens e é dotado de um canhão 90 mm e uma metralhadora 7,62 mm.
O URUTU, veículo anfíbio com capacidade para transportar 9 homens armados e equipados, é dotado de motor diesel Mercedes Benz com autonomia de 600 Km por estrada. Pesa 14 toneladas e atinge a velocidade de 100 Km/h (pode ser encontrado na versão ambulância, comando, comunicações, transporte de cargas gerais e de munições).
Esses foram os carros mais vendidos por essa empresa. Sua exportação passou da casa dos 6.000 veículos, enviados para mais de 27 países da América Latina à África, do Oriente Médio à Europa. A ENGESA produzia também o EE 3 JARARACA, blindado leve 4x4, para reconhecimento, utilizado pelo Iraque, Colômbia e Venezuela. Produzia ainda, caminhões de múltiplo emprego para fins militares, bem como um utilitário JEEP, nas versões civil e militar.
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